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A FEITIÇARIA ATRAVÉS DOS TEMPOS
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A FEITIÇARIA ATRAVÉS DOS TEMPOS
(Häxan, Suécia / Dinamarca, 1922)
Direção: Benjamin Christensen
Roteiro: Benjamin Christensen
Elenco: Maren Pedersen, Clara Pontoppidan, Elith Pio, Oscar Stribolt, Tora Teje, John Andersen, Benjamin Christensen, Poul Reumert, Karen Winther, Kate Fabian, Else Vermehren, Astrid Holm, Johannes Andersen, Gerda Madsen e Aaage Hertel.
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Documentário sobre a história de feitiçaria, contado em vários estilos, com slides ilustrados até cenas dramatizadas de supostos eventos da vida real. Os casos narrados são datados até uma data bem próxima à realização do filme, no início do século XX. Documentário / Terror / Expressionismo / Surrealismo / Cult Movie, 87 minutos, Preto e Branco, Mudo.

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A mulher exposta como o mal do mundo.

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Häxan é um dos filmes mais impressionantes do período mudo nórdico, no qual Christensen resgata o espírito das telas de Hieronymous Bosch, Callot e Goya para criar um inferno assustador e de notável senso plástico.
É um clássico. E, como tal, é bom que seja visto; talvez não como entretenimento, mas sim como cultura. Desperta a mente e a sensibilidade não somente aos apreciadores do Expressionismo, mas também dos que se interessa por Psicologia e Psiquiatria.
Levando-se em consideração os limitados recursos cinematográficos disponíveis na época, são incríveis os “efeitos especiais” criados para ilustrar os supostos poderes atribuídos às Bruxas e ao Diabo no imaginário popular. Häxan compara a caça às bruxas na Idade Média, em parte movida pela repulsa e o medo que causavam as bruxas, com a segregação que sofrem as mulheres da terceira idade, de baixa renda da sociedade moderna. E associa a estes mesmos determinados segmentos sociais as ditas bruxas de outrora. Ou seja, na Idade Média, como em 1920, e, o pior, como agora... a mulher velha, pobre, e/ou “louca” (ou seja, o indivíduo desviante do padrão, não apenas do sexo feminino, mas este é o gênero enfocado pelo cineasta, até porque, até bem pouco tempo, a Bruxaria, estava, indiscutivelmente, muito mais associada à mulher) repugna tanto a ponto de ser considerada como portadora do malefício, portanto, precisa ser apartada da sociedade.
O filme denota que a perseguição ao divergente não acabou e pode culminar, até, no extermínio. Portanto, suscita questionamentos sobre o que fazemos uns aos outros aqui e agora, afinal, a Inquisição pode assumir várias formas. Um outro aspecto muito importante deste filme, é que, na década de 20, temos o início de descobertas na Psiquiatria como a da Histeria, doença atribuída somente às mulheres, o chamado “furor uterino” que passou inclusive a ser uma forma de expressar conceitos depreciativos sobre aspectos do comportamento feminino socialmente indesejável; e, em Häxan, temos a analogia entre os métodos de identificação desta doença de caráter estigmatizante e sexista (exatamente como o é a perseguição às bruxas) com os métodos utilizados pelos inquisidores medievais para identificar suas vítimas. Entre eles, buscar pontos insensíveis em seus corpos espetando-as com agulhas. Um dos sintomas do transtorno afetivo chamado então de histeria, era a insensibilidade em algumas áreas do corpo. Com o dedo em riste, o médico dava o diagnóstico irrefutável e inescapável, e, como o veredicto do inquisidor, procede-se à condenação da pessoa ao confinamento, às torturas e a todo o subseqüente antiqüíssimo ritual de expurgo do socialmente “inadequado”. Häxan é um documentário que pode ser classificado também de drama e drama de horror. Contudo, é um clássico, talvez não pela sua forma, mas pelo seu conteúdo; que mostra e com clareza os preconceitos que as mulheres sofriam naquela época.
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A mulher sem rumo sob o preconceito da sociedade!
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